quarta-feira, 22 de julho de 2009

Adaptações

Com a chegada às salas brasileiras de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” (2009), tão esperado por seus fãs, a questão acerca das adaptações de obras literárias para as telonas volta à tona. Afinal, elas têm sido muito freqüentes e populares, mas será que as adaptações podem traduzir de maneira bem sucedida o universo das obras a que correspondem?

Para muitos, a magia que envolve um livro encontra-se na liberdade de se imaginar os cenários, personagens e situações da história conforme a preferência de cada leitor, desde que dentro dos traços delimitados pelo autor. A liberdade da imaginação seria responsável, então, pelo encantamento exercido sobre os leitores. É inegável, porém, que assistir a tais universos — antes apenas vivos na imaginação — nos cinemas, traz alguma satisfação, apesar das alegações de que as adaptações acabariam por restringir a imaginação dos leitores/espectadores quanto à história.

Dentre as 50 maiores bilheterias estadunidenses de todos os tempos, encontram-se doze adaptações, como “Senhor dos Anéis: Retorno do Rei (2003)” – com arrecadação de $377.019.252 -, “Parque dos Dinossauros (1993)” – com arrecadação de $356,784,000 -, “Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001)” – com arrecadação de $317,557,891 – e “Crônicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005)” – com arrecadação de $291,709,845. Ou seja, cerca de um quarto dos cinqüenta filmes com maior arrecadação nas bilheterias do país foram baseados em livros.

Na lista das 50 maiores bilheterias de todos os tempos em todo mundo, a proporção aumenta. Além dos já citados acima, títulos como “O Código Da Vinci” (2006) e “Guerra dos Mundos”(2005) também integram a seleção, com arrecadações de $757,236,138 e $591,377,056, respectivamente.


Em termos qualitativos, as adaptações também marcam presença. Vale lembrar que “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008) — que, por acaso, também é a oitava maior bilheteria brasileira de 2009 até o fim de semana de 10-12 de Julho do corrente ano – concorreu à estatueta dourada mais cobiçada do cinema, o Oscar de Melhor Filme, cujo vencedor foi o então favorito “Quem Quer Ser um Milionário?” (2009), de Danny Boyle.

Ambos os filmes são baseados em obras literárias, sendo o primeiro no conto do grande escritor norte americano F. Scott Fitzgerald, mais conhecido por “O Grande Gatsby” – que aliás já teve duas adaptações feitas para o cinema. Já a saga de um jovem indiano que está prestes a se tornar bilionário teve como base o romance “Sua Resposta Vale um Bilhão”, de Vikas Swarup.



Participou ainda da premiação o belo “O Leitor” (2008), cuja história do relacionamento de um adolescente com uma mulher mais velha que depois revela ter se envolvido com o regime nazista, também integra o grupo das adaptações, tendo sido baseada no livro de Bernhard Schlink. Tendo em comum com os filmes citados logo acima indicações ao Oscar e o fato de ser uma adaptação cinematográfica de uma obra literária, encontra-se ainda “’Foi Apenas um Sonho” (2008) – o filme teve origem em uma obra de Richard Yates.


“O Poderoso Chefão” (1972), estrelado brilhantemente por Marlon Brando é um exemplo de adaptações bem sucedidas que foram muito aclamadas. Com uma arrecadação modesta, se comparada às citadas anteriormente, de 156,736,000 dólares, o filme é tido com um dos melhores de toda história. No site Internet Movie Database (IMDb), por exemplo, ele ocupa o segundo lugar da lista dos melhores de todos os tempos, com cerca de 358.720 votos. Talvez esse resultado não seja surpreendente, a obra original de Mario Puzo gozou de grande aclamação e o próprio autor se encarregou do screenplay, e o filme ainda contou com o grande Francis Ford Coppola na cadeira de direção.

No Brasil há, mais uma vez, espaço de sobra para o sucesso das adaptações. Tido no ano de 2008 como a maior bilheteria nacional, e figurando em nono entre as bilheterias nacionais e internacionais do referido ano, “Meu Nome Não É Johnny” (2008) foi um sucesso absoluto e... baseado na vida de João Guilherme Estrela segundo narrado no livro de Guilherme Fiúza. No mesmo ano, a lista das maiores bilheterias no solo brasileiro viu filmes como “Marley e Eu”, “007 - Quantum of Solace”, “Crepúsculo”, “Ensaio sobre a Cegueira”, “O Caçador de Pipas” e “Viagem ao Centro da Terra”, entre outros também baseados em livros.


Já 2009 presenciou as estréias e grandes arrecadações das adaptações “O Leitor”, “Anjos e Demônios”, “Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você”, “O Curioso Caso de Benjamin Button” e “Divã”, este último que figura entre os marcos do sucesso do cinema nacional com seu surpreendente sucesso de bilheteria. E ainda podemos esperar as adaptações cinematográficas “Julie & Julia” (2009, livro de Julie Powell), “The Soloist” (2009, livro de Steve Lopez), “The Twilight Saga: New Moon” (2009, livro de Stephanie Meyer), “Sherlock Holmes” (2009, livro de Sir Arthur Conan Doyle), e muitos outros.




Dessa forma é impossível não perceber o fôlego com que filmes baseados em obras literárias atingem o mercado, cada vez em maior quantidade, qualidade e, puxando para si maiores lucros. É interessante observar que muitos destes filmes acabam tendo resultados tão arrebatadores nas bilheterias exatamente por já terem sido degustados através de seus respectivos livros. Afinal, a maioria deles só chega a ser adaptado se tiver apresentado bons resultados de venda nas livrarias, o que já acaba por formar hordas de fãs que esperam ansiosamente os cinemas pendurarem o pôster das adaptações de suas queridas histórias.

Mas assim como acontece na vida, existe o sucesso, da mesma forma em que existe o fracasso. Ao passo em que a trilogia “Senhor dos Anéis”, conduzida com maestria por Peter Jackson com base nos livros de J.R.R.Tolkien entre 2001 e 2003 foi eleita a melhor adaptação de todos os tempos, a adaptação “A Bússola de Ouro” (2007) da trilogia Fronteiras do Universo de Phillip Pullman, é informalmente atacada repetidas vezes em fóruns de discussão na internet como uma das piores adaptações da história cinematográfica.

Sendo um filme pior ou melhor do que seu livro correspondente, o melhor é checar os dois e assim compará-los, sem nunca esquecer que cada suporte tem uma linguagem própria, de forma que apresenta benefícios e malefícios a acrescentar ao enredo e até mesmo à narrativa de cada livro.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Os premiados do Anima Mundi no Rio de Janeiro


O AnimaMundi é um festival de cinema que sempre trás muitas novidades e diversão para o público carioca. Nesse ano, mais uma vez lotou as salas de cinema, mesmo em horários no meio da tarde de dias da semana. A premiação ocorreu na Praça Animada na noite de Domingo (19/07) e foi um tanto quanto surpreendente.

O Júri Popular elegeu como o melhor curta o filme francês “Mon Chinois” que encanta pela simplicidade, mas justamente por essa característica surpreende. O curta é trata das características dos chineses e certamente é passível de censura por lá pelo seu teor elegantemente crítico. Abaixo você pode assistí-lo, já que mesmo sem saber francês é possível captar a maioria das ideias.


Outro curta do mesmo autor, Cédric Villain, e que concorreu nessa categoria deixa claro sua característica única de fazer esse tipo de filmes, com uma narrativa de fundo, fazendo uso de mapas e imagens diversas para comunicar sua mensagem, além de desenhos do mesmo tipo e finais inconclusivos. Estou falando de “Portrais Ratés à Sainte Hélène” sobre Napoleão Bonaparte. Esse, no entanto, não foi premiado.

No Júri Popular de Curtas, o segundo lugar ficou com Smith & Foulkes, responsáveis pelo hilário “This Way Up”, da BBC Films. O curta, que é de altíssima qualidade gráfica, mostra o calvário de dois agentes funerários para conseguir enterrar uma cliente. Assista-o logo abaixo.


Em terceiro nessa categoria estão os personagens Wallace e Gromit, dos mesmos produtores do enorme sucesso “A Fuga das Galinhas” que está na seleta lista de filmes que a Globo repete quase que mensalmente na Sessão da Tarde. Wallace & Gromit foram criados na década de 1980 e estrelaram um longa-metragem depois de muitos curta-metragens como a que os deu o terceiro lugar no Júri Popular do festival.


O prêmio de 10 mil reais prometido pela TV Brasil para o curta eleito pelo público como o melhor brasileiro ficou com Diogo Viegas que exibiu “Josué e o Pé de Macaxeira” (foto), um “João e o Pé de Feijão” com uma faceta mais brasileira. O segundo colocado foi “O Divino, de repente”, do ano de 2003, que trata de levar às telas a arte nordestina do repente. No terceiro lugar ficou o vídeo de Marão, que tem uma narração muito bem humorada no fundo, mas ao contrário dos anteriores, não se relaciona com a cultura tradicional do nosso país. Chama-se “O Anão que Virou Gigante”, que aborda as desvantagens de ambas condições de tamanho.


Um outro destaque, que foi premiado como melhor animação pelo júri profissional, é Muto. Um filme feito a partir de pinturas nas paredes de Buenos Aires. Uma animação diferente, criativa e cheia de sutilezas que prometem encantar o espectador. Essa obra-prima também pode ser assistida abaixo.



Presto, da Pixar, também era muito aguardado, mas saiu sem prêmios. É um curta sobre a relação à “Tom e Jerry” de um mágico e seu coelho faminto. Vale muito a pena conferir abaixo, afinal, a Pixar sempre tem algo bom a mostrar.


A lista completa de filmes premiados está no blog do festival:

http://www.animamundifestival.blogspot.com/

Para quem não curtiu o Anima Mundi 2009, então, resta esperar pelo ano que vem ou partir para São Paulo. Para quem curtiu, fica a nostalgia e a saudade da animação boa e plural que o festival nos proporciona.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A proposta: não confiar demais nas críticas

Clichê. Essa palavra está, direta ou indiretamente, em 10 entre 10 críticas do filme “A proposta”, última empreitada de Sandra Bullock e da diretora Anne Fletcher, cuja essência artística é a dança, tendo participado de coreografias de filmes como “Hairspray” e “Mulher Gato” e dirigido apenas 3 filmes em sua carreira, dentre eles “Se ela dança, eu danço” ou, originalmente, “Step Up”. O fato de não inovar não torna o filme um desastre, muito pelo contrário, o clichê, se bem dosado, faz sucesso. Nos Estados Unidos, no fim de semana de estreia, a comédia romântica liderou a bilheteria e mesmo hoje, quase um mês após a sua estreia, continua entre os cinco mais vistos.

O filme trata de uma editora durona e bem-sucedida que se vê prestes a ser deportada para seu país de origem, o Canadá, mas decide casar-se com seu assistente, que é Ryan Reynolds, para permanecer na terra do tio Sam. Andrew Paxton é o nome do assistente que surpreende Margaret Tate, que é Sandra Bullock, com sua rica e adorável família de uma pequena cidade no Alasca. Lá, Andrew começa a deixar de odiar Margaret que, por sua vez, começa a sentir-se cada vez mais a vontade no habitat do rapaz. Em suma, “A proposta” prova que saber o final do filme de antemão não faz o espectador deixar de vê-lo, pois se fizesse, o filme, distribuído pela Disney e produzido pela Touchstone, não seria assistido por ninguém.



As críticas do filme, em geral, são semelhantes na análise: é um comercial cheio de clichês que cumpre seu papel de entreter. No entanto, nota-se que em alguns há um tom de otimismo, enquanto em outros há um tom excessivamente agressivo. A Folha de São Paulo, por exemplo, diz que o personagem de Reynolds inicialmente tem cara de bobo e que sua mãe na história possui uma “doçura nauseante” e completa criticando a direção de Anne Fletcher, que na realidade não foi nada mais do que clichê, nos ângulos de filmagem, nas reviravoltas de finais de comédias românticas, na exposição do desenvolvimento do amor entre os protagonistas, etc. Inácio Araújo, da Folha, completa dizendo que “Isso (as deficiências na direção de Anne Fletcher) não impede "A Proposta" de ser um filme a ver sem se aborrecer, embora também não haja muita razão para fazer fila por ele”. Puro desdém. Mas, se a Folha assumiu esse rumo mais durão, o New York Times vai mais longe e lista o que é clichê no filme, menciona o que é copiado de outros filmes (ainda que isso seja, de certo modo, uma definição de clichê) e liga a metraladora contra Sandra Bullock, Ryan Reynolds e até Betty White, que faz a vovó Annie, que é considerada sem graça pelo Times, mas ganhou um artigo só para si no fabuloso site de cinema do portal UOL por se destacar no filme. Os ácidos adjetivos do Times não falam pela maior parte dos veículos norte-americanos como nota-se nas análises simpáticas do Variety, do Entertainment Weekly e do Los Angeles Times.


É recorrente a menção positiva, em geral, da cena em que Bullock pede seu subordinado em casamento de joelhos, além da evidente química entre os dois atores, ainda que por vezes Sandra Bullock tenha sido considerada insossa, mero engano de quem não entende que Bullock não é uma comediante, mas uma atriz que participa de filmes de comédia. Pouco mencionado pela crítica, mas com participações com humor à Borat, vem o personagem Ramone, um faz-tudo da pequena cidade do Alaska que ajuda a dar liga ao filme.

“A proposta” surge como prova de que não se deve deixar de ver um filme por conta de uma crítica negativa, afinal, o objetivo de ir ao cinema casualmente é adquirir o almejado entretenimento.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Inimigos Públicos de Nacionalidades Diferentes


Chegando aos cinemas com cerca de apenas duas semanas de diferença, estão dois filmes que possuem muito em comum. Sendo um de produção francesa e o outro, estadunidense, ambos têm seu enredo centrado na vida de notórios bandidos, que conquistaram o título de “inimigo público n°1” em seus respectivos países.

Tanto um quanto o outro conquistou o público e a crítica de seus países, firmando-se como thrillers de tirar o fôlego bem sucedidos. Nos dois filmes, que podem ser classificados como biográficos, há a presença de atores marcantes considerados um dos melhores dentre os de suas nacionalidades.

Em “Inimigos Públicos” (Public Enemies, 2009), a história gira em torno da quadrilha gângster de John Dillinger, que arrombava bancos em plena Grande Depressão, ganhando até mesmo simpatia do povo americano, na época insatisfeito com o papel dos bancos no país. A quadrilha é caçada pelos agentes federais do recém-formado FBI de J.Edgar Hoover, o então presidente, mas nenhuma cela parece ser capaz de segurar Dillinger.

Na pele do carismático gângster está Johnny Depp. Mais conhecido pelo papel de Jack Sparrow na série “Piratas do Caribe”, o americano é considerado um dos atores mais versáteis da atualidade, com títulos que vão de “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999) a “Em Busca da Terra do Nunca” (2004) no currículo. Seu reconhecido talento já o rendeu inúmeras indicações e prêmios ao longo dos anos.

O filme, dirigido por Michael Mann — de thrillers como “Colateral” (2004) e “Miami Vice” (2006) — também inclui a presença de Christian Bale, no papel de Melvin Pervis, agente do FBI encarregado de investigar Dillinger. O britânico, que começou sua carreira ainda criança, emprestando a voz a Thomas no clássico da Disney “Pocahontas” (1995), é mais conhecido por sua interpretação de Batman na nova versão cinematográfica do Cavaleiro das Trevas, comandada por Christopher Nolan.

Tendo estreado nos EUA no último final de semana já ocupando a terceira posição do ranking dos filmes mais vistos, o filme, cuja estréia brasileira está prevista para o dia 24 de Julho, já é muito aguardado, especialmente pelos fãs de Johnny Depp.


Do outro lado está “Inimigo Público Número 1 - Instinto de Morte” (L’instinct de mort, 2008), do francês Jean-François Richet, mesmo diretor da refilmagem de “Assalto à 13ª DP” (2005). Esse teve sua estréia nacional no último fim de semana, dia 3. Dessa vez, a história contada é a de Jacques Mesrine, um dos mais violentos e procurados criminosos franceses. O super-gângster é conhecido por inúmeros assaltos a bancos e fugas milagrosas, o que lembra muito os feitos de John Dillinger.

Este filme, a primeira parte de uma série dividida em dois, — a segunda parte deve estrear até o final do ano — foca nos anos anteriores à conquista do título de Procurado N°1 por Mesrine, com a sua participação na Guerra da Argélia, em 1959. Quem encara o papel é Vincent Cassel, parisiense de 42 anos e queridinho do César Awards, o Oscar francês.


Entretanto, mesmo com todas as semelhanças, o filme francês parece não chamar atenção nas salas brasileiras, com estréia pouco divulgada e feita apenar em cinemas considerados alternativos. Isso certamente não caracteriza rejeição ao filme, especificamente, até porque ele foi aclamado não só pela crítica francesa, como pela internacional como um todo. “Inimigo Público Número 1” é, sim, mais uma vítima de certo preconceito a filmes europeus nas salas populares de empresas como o Kinoplex e o Cinemark, no caso do Rio de Janeiro.

Vale lembrar que Vincent Cassel já se autodenominou ator franco-brasileiro após sua participação em “À Deriva” de Heitor Dhália, que esteve em Cannes disputando em uma categoria paralela à principal. O ator, que também conta com filmes Hollywoodianos no currículo, como “Doze Homens e Outro Segredo” (2004), mostra-se, portanto, bastante variado, além de ser reconhecidamente talentoso.
O filme francês está em cartaz no Estação Barra Point, no Estação Vivo Gávea e no Espaço de Cinema em Botafogo. A dica é conferir ambos os filmes para melhor compará-los.