Jason Reitman é um diretor e roteirista cujo terceiro filme estreou no Brasil na sexta-feira passada, dia 22 de Janeiro. Falo de “Amor sem escalas” (Up in the Air, no original), com George Clooney no papel principal. O personagem de Clooney trabalha em uma empresa que é contratada para demitir as pessoas em outras empresas. Isso o faz viajar muito, tornando sua vida solitária. Mas é por se apaixonar por uma mulher com estilo de vida parecido que começa a rever seus conceitos de felicidade. Reitman já havia sido muito elogiado por seus dois primeiros filmes, “Obrigado por fumar” e “Juno”, e no dia 17 de Janeiro viu seu último filme ser indicado em diversas categorias no Globo de Ouro, mas vencer apenas a de melhor roteiro. Já que o prêmio de melhor diretor foi para James Cameron e o de melhor filme para seu poderoso “Avatar”, dizem que Reitman ficou com um prêmio de consolação. Será?
Meu cineasta favorito é Woody Allen, como não nego a ninguém. Mas a coisa mais incrível nos filmes dele é a forma como são escritos. Me refiro aqui aos diálogos, às piadinhas, às histórias despretensiosas que Woody leva ao cinema, aos finais que ele dá a essas histórias. Isso tudo é roteiro, não é direção. Pegue outro exemplo se não está satisfeito. Vamos a Almodóvar. Pense nas histórias dos filmes em que as mulheres são fortes e ocupam papéis centrais, em que mirabolâncias inesperadas acontecem, em que os finais são sempre arrebatadores e inteligentíssimos. Essas características, mais uma vez, são do roteiro.
O porquê de o prêmio de melhor filme ser o mais importante, seja no Globo de Ouro, no Bafta ou no próprio Oscar, é bem evidente, mas o prêmio de melhor roteiro não é consolação. Não há nada melhor do que uma boa história no cinema. Escrever essa história em uma linguagem que dê certo nessa mídia não é fácil.
Sugiro que quando você for ver algo sobre o Oscar, preste bastante atenção nos filmes concorrendo a melhor roteiro original e melhor roteiro adaptado. O ano de 2009 foi muito prolífico em termos de roteiros de enorme qualidade artística (eu disse artística, então Avatar não conta), que nos entretêm e nos faz pensar. “Amor sem escalas” é um ótimo exemplo de produto magnífico dessa leva de filmes que exaltam o roteirista mais que o diretor, ainda que em muitos casos, como no de “Amor sem Escalas”, eles sejam a mesma pessoa. Aliás, Sheldon Turner também escreve o roteiro com Reitman.
Outro que já foi assistido por muita gente aqui no Brasil e que merece aplausos é “500 dias com ela” (500 days of summer, no original), que, como é anunciado logo em seu início, não é uma história de amor. A direção de Marc Webb é incrível (lhe rendeu a escolha para fazer o próximo filme do Homem Aranha) e a história é de tirar o fôlego. Scott Neustadter e Michael H. Weber são os responsáveis por esse roteiro, que não é adaptado como o de Jason Reitman, vale lembrar. Trata-se do ciclo amoroso de um envolvimento entre um rapaz com baixa auto-estima e uma linda moça que diz não querer relacionamentos sérios.
“Educação” (An education, no original) é um filme britânico que deve concorrer ao Oscar de roteiro adaptado com Reitman. O filme cujo roteiro é do escritor inglês Nick Hornby estava no festival do Rio 2009 e foi, sem sombra de dúvidas, um dos melhores que assisti no ano, com qualidade de roteiro que se iguala a “Amor sem escalas”, ainda que seja menos comentado. A história da menininha que se apaixona por um homem mais velho e decide largar a escola para casar com ele possui narrativa gostosa e dá uma lição de moral bastante improvável no fim. Estará nos cinemas brasileiros no dia 19 de Fevereiro, de acordo com o site Filme B.
Improvável que alguma dessas 3 obras que mencionei leve o Oscar de melhor filme, pois a força de “Avatar” ou a surpresa de “Guerra ao Terror” já são favoritos. No entanto, o que faz desses filmes algo tão especial para mim é o fato de serem maravilhosos desde o script. E a categoria do Oscar que premia isso é a de roteiro que, portanto, se mostra muito mais relevante do que pode parecer. Muito mais que mera consolação.