terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Valorize o roteiro

Estamos, atualmente, em um período importante para aqueles que acompanham o cinema com algum interesse. O motivo, obviamente, é a quantidade de premiações que vêm para coroar os trabalhos de atores, diretores e roteiristas. E é justamente sobre essa última categoria que eu gostaria de falar nesse post.

Jason Reitman é um diretor e roteirista cujo terceiro filme estreou no Brasil na sexta-feira passada, dia 22 de Janeiro. Falo de “Amor sem escalas” (Up in the Air, no original), com George Clooney no papel principal. O personagem de Clooney trabalha em uma empresa que é contratada para demitir as pessoas em outras empresas. Isso o faz viajar muito, tornando sua vida solitária. Mas é por se apaixonar por uma mulher com estilo de vida parecido que começa a rever seus conceitos de felicidade. Reitman já havia sido muito elogiado por seus dois primeiros filmes, “Obrigado por fumar” e “Juno”, e no dia 17 de Janeiro viu seu último filme ser indicado em diversas categorias no Globo de Ouro, mas vencer apenas a de melhor roteiro. Já que o prêmio de melhor diretor foi para James Cameron e o de melhor filme para seu poderoso “Avatar”, dizem que Reitman ficou com um prêmio de consolação. Será?



Meu cineasta favorito é Woody Allen, como não nego a ninguém. Mas a coisa mais incrível nos filmes dele é a forma como são escritos. Me refiro aqui aos diálogos, às piadinhas, às histórias despretensiosas que Woody leva ao cinema, aos finais que ele dá a essas histórias. Isso tudo é roteiro, não é direção. Pegue outro exemplo se não está satisfeito. Vamos a Almodóvar. Pense nas histórias dos filmes em que as mulheres são fortes e ocupam papéis centrais, em que mirabolâncias inesperadas acontecem, em que os finais são sempre arrebatadores e inteligentíssimos. Essas características, mais uma vez, são do roteiro.

O porquê de o prêmio de melhor filme ser o mais importante, seja no Globo de Ouro, no Bafta ou no próprio Oscar, é bem evidente, mas o prêmio de melhor roteiro não é consolação. Não há nada melhor do que uma boa história no cinema. Escrever essa história em uma linguagem que dê certo nessa mídia não é fácil.

Sugiro que quando você for ver algo sobre o Oscar, preste bastante atenção nos filmes concorrendo a melhor roteiro original e melhor roteiro adaptado. O ano de 2009 foi muito prolífico em termos de roteiros de enorme qualidade artística (eu disse artística, então Avatar não conta), que nos entretêm e nos faz pensar. “Amor sem escalas” é um ótimo exemplo de produto magnífico dessa leva de filmes que exaltam o roteirista mais que o diretor, ainda que em muitos casos, como no de “Amor sem Escalas”, eles sejam a mesma pessoa. Aliás, Sheldon Turner também escreve o roteiro com Reitman.

Outro que já foi assistido por muita gente aqui no Brasil e que merece aplausos é “500 dias com ela” (500 days of summer, no original), que, como é anunciado logo em seu início, não é uma história de amor. A direção de Marc Webb é incrível (lhe rendeu a escolha para fazer o próximo filme do Homem Aranha) e a história é de tirar o fôlego. Scott Neustadter e Michael H. Weber são os responsáveis por esse roteiro, que não é adaptado como o de Jason Reitman, vale lembrar. Trata-se do ciclo amoroso de um envolvimento entre um rapaz com baixa auto-estima e uma linda moça que diz não querer relacionamentos sérios.


“Educação” (An education, no original) é um filme britânico que deve concorrer ao Oscar de roteiro adaptado com Reitman. O filme cujo roteiro é do escritor inglês Nick Hornby estava no festival do Rio 2009 e foi, sem sombra de dúvidas, um dos melhores que assisti no ano, com qualidade de roteiro que se iguala a “Amor sem escalas”, ainda que seja menos comentado. A história da menininha que se apaixona por um homem mais velho e decide largar a escola para casar com ele possui narrativa gostosa e dá uma lição de moral bastante improvável no fim. Estará nos cinemas brasileiros no dia 19 de Fevereiro, de acordo com o site Filme B.


Improvável que alguma dessas 3 obras que mencionei leve o Oscar de melhor filme, pois a força de “Avatar” ou a surpresa de “Guerra ao Terror” já são favoritos. No entanto, o que faz desses filmes algo tão especial para mim é o fato de serem maravilhosos desde o script. E a categoria do Oscar que premia isso é a de roteiro que, portanto, se mostra muito mais relevante do que pode parecer. Muito mais que mera consolação.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Com certeza o roteiro é uma das partes mais essenciais a um filme e, eu diria, algo que realmente pode diferenciar um filme incrível de outro mediano.

    Agora me diz como que Avatar conseguiu ser indicado por melhor roteiro original ao Writers Guild?!

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