sábado, 29 de agosto de 2009

Contemplados pelo FSA

Na última quinta-feira, dia 20 de Agosto, a ANCINE (Agência Nacional de Cinema) divulgou a lista dos longas que receberão apoio financeiro federal na Linha C do Fundo Setorial do Audiovisual – que envolve a aquisição de direitos de distribuição de longas. O critério usado na seleção dos contemplados baseou-se no potencial comercial e de competição no mercado que os filmes pudessem ter, de forma a dar maior gás às produções nacionais no setor. A verba, cujo total soma 15 milhões de reais, constitui o primeiro grande financiamento federal a ser concedido este ano.

Ao analisarmos a lista (abaixo) dos contemplados, alguns nomes nos saltam aos olhos, como o de Daniel Filho (“Tempos de Paz”, 2009), contemplado com “As Vidas de Chico Xavier” e Daniela Thomas (“Linha de Passe”, 2008), contemplada na co-direção com Felipe Hirsch de “Insolação”. Alguns filmes também se destacam, como “Do Começo ao Fim”, polêmico longa de Aluízio Abranches que conta a história de um incestuoso caso de amor entre dois irmãos; e “Besouro”, de João Daniel Tikhomiroff, cujo trailer já circula nas sessões de cinema do circuito. O filme narra a lenda do herói capoeirista homônimo na Bahia de 1920.


Lista dos Filmes Selecionados na Linha C do FSA

“Amor Sujo” – Paulo Caldas (R$ 500 mil)
“Apollo Futebol Clube” – Mauricio Farias (R$ 700 mil)
“Besouro” – João Daniel Tikhomiroff (R$ 1,5 milhão)
“Corações Sujos” – Vicente Amorim (R$ 1,5 milhão)
“Um Dia” – Jéferson De (R$ 377 mil)
“Do Começo ao Fim” – Aluízio Abranches (R$ 462 mil)
“Eu e Meu Guarda-Chuva” – Toni Vanzolini (R$ 1 milhão)
“Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” – Beto Brant (R$ 700 mil)
“Estação Liberdade” – Caito Ortiz (R$ 500 mil)
“Febre do Rato” – Claúdia Assis (R$ 500 mil)
“Histórias de Amor Duram 90 Minutos” – Pailo Halm (R$ 300 mil)
“A Hora e a Vez de Augusto Matraga” – Vinícius Coimbra (R$ 500 mil)
“Insolação” – Daniela Thomas e Felipe Hirsch (R$ 500 mil)
“Minhocas” – Paolo Conti e Artur Nunes (R$ 1,6 milhão)
“Salve Geral” – Sérgio Rezende (R$ 1,5 milhão)
“Somos Tão Jovens” – Antônio Carlos Fontoura (R$ 500 mil)
“As Vidas de Chico Xavier” – Daniel Filho (R$ 1,8 milhão)
“A Vida Secreta das Estrelas” – Ricardo Elias (R$ 483 mil)

Destaques

“Besouro – Nasce um Herói”, João Daniel Tikhomiroff

O publicitário João Daniel Tikhomiroff buscava uma inspiração para seu primeiro longa quando deu de cara com o livro “Feijoada no Paraíso”, de Marco Carvalho, que conta as histórias e lendas que envolviam um herói capoeirista. A obra o teria deixado apaixonado, e “Besouro” seria o resultado.
O filme é descrito como um épico repleto de aventura, paixão, misticismo e a mistura de dança e luta em que consiste a capoeira. Como fica claro nas cenas de luta do irresistível trailer, o projeto ainda envolveu o conceituado coreógrafo de cenas de ação Hiuen Chiu Ku, mesmo que arquitetou as seqüências de ação de “Tigre e o Dragão” (2000).

A história se passa na Bahia de 1920, onde os negros ainda sofriam com a descriminação e o trabalho escravo. O menino Manuel, que buscou sua identidade na capoeira, viria a ser o herói Besouro que lutaria contra a opressão de seu povo. Assim como o inseto homônimo, que desafiava as Leis da Física ao voar, o mítico capoeirista deveria desafiar a lei dos homens da época.

O filme, cuja estréia se dará no dia 30 de Outubro deste ano, tem chamado atenção do público. O trailer, que já foi liberado para ser passado antes das sessões nas salas de cinema do país, foi disponibilizado na rede e atingiu 310 mil visualizações no site YouTube – em apenas duas semanas após a sua disponibilização. A comunidade capoeirista também voltou seus olhos para o filme, o site de relacionamentos Orkut já possui comunidades sobre “Besouro”, que totalizam cerca de 3.000 membros, nas quais capoeiristas e simpatizantes discutem tanto a prática quanto o filme.



“Do Começo ao Fim”, Aluísio Abranches


Aluízio Abranches notara a prática do cinema de abordar temas delicados associando a eles justificativas trágicas ou traumáticas. O diretor de “As Três Marias” (2002) desejava, então, transformar temas considerados tabus em uma bela história de amor, na qual não houvesse tais justificativas, e que ocorresse naturalmente. Assim nasceu “Do Começo ao Fim”, polêmico filme que narra a história de dois irmãos que vão desenvolvendo uma proximidade íntima que os levará a manter um caso incestuoso.

O longa, que trata de dois temas delicados, o homossexualismo e o incesto, enfrentou alguns obstáculos. O ato de arranjar patrocínio, por exemplo, foi dificultado pelo preconceito. E mesmo quando o conseguiram, a condição dos patrocinadores era permanecer em anonimato.


A produção, que contou com um orçamento relativamente baixo, conseguiu se manter firme graças à fé dos envolvidos com o projeto. O renomado fotógrafo suíço Ueli Steiger, que fez a fotografia de “O Dia Depois de Amanhã” (2004) e “Patriota” (2000), participa do filme, principalmente devido a sua amizade com o diretor – ambos estudaram cinema juntos na Inglaterra.

A preocupação de Abranches com a estética do filme somada à participação de Ueli Steiger na fotografia ajudam a capturar de forma definitiva a delicadeza que sempre foi o foco do projeto. O fato de o resto das pessoas envolvidas realmente acreditarem na história - como o elenco, que conta com Júlia Lemmertz, Fábio Assunção, Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos no papel dos dois irmãos adultos - seria como a cereja no topo do bolo.



“Insolação", Daniela Thomas e Felipe Hirsch

Com o intuito de retratar o amor inalcançável de forma sincera, dotada da delicadeza própria do sentimento, Daniela Thomas e Felipe Hirsch rodaram o seu primeiro longa após realizarem em conjunto inúmeros projetos teatrais ao longo de nove anos. A experiência teatral dos dois acabou por trazer para o filme alto nível de sensibilidade ao retratar a história e uma cautelosa preocupação com a sua montagem e produção.


Tanta dedicação e cuidado apresentou um resultado satisfatório: “Insolação” foi selecionado para participar do 66° Festival de Veneza, representando o Brasil na mostra paralela Horizontes (o longa “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, também participará da mostra) . Mesmo não concorrendo ao tradicional Leão de Ouro do festival, que ocorrerá entre 2 e 12 de setembro, a mostra para a qual o filme foi selecionado tem a sua importância – costuma privilegiar o cinema autoral que utiliza novas linguagens e aponta novas tendências.

Tais novas linguagens, que parecem ser exploradas no filme, apenas foram possíveis devido ao estado de liberdade criativa que os dois partilharam e suas montagens teatrais. Longos cinco anos foram necessários para que tanto Daniela quanto Felipe ficassem satisfeitos com o projeto – segundo este, cada passo que o filme avançava era pensado com extrema cautela e meditação, justamente por desejarem permanecer fiéis ao sentimento retratado em todos os seus aspectos.

O roteiro, que foi escrito baseando-se livremente em contos russos de autores como Tchekhov, Pushkin e Turgenev, fala sobre a utopia e febre de amor recém-iniciado, que poderiam ser confundidas com os efeitos de intensa insolação em uma cidade castigada pelo sol. No elenco, estão Paulo José, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Leandra Leal, entre outros.


"As Vidas de Chico Xavier”, Daniel Filho

Como nos é explicitado pelo título, o longa trata do misterioso psicógrafo nascido em Minas Gerais. O filme, baseado no livro de mesmo nome escrito por Marcel Souto Maior, tenta desmistificar a figura de Francisco Cândido Xavier ao narrar sua história e seus feitos, como ter sido eleito ao prêmio Nobel da Paz e ter psicografado centenas de livros, que o tornariam um dos mais importantes brasileiros do século 20.

No elenco do filme encontram-se Tony Ramos, ator freqüente nos filmes de Daniel Filho, Letícia Sabatella, Cássia Kiss, Christiane Torloni, entre outros. O papel principal será revezado por três atores que retratarão o mineiro em três fases diferentes de sua vida, Mateus Rocha será o Chico de 1915 a 1922, Ângelo Antônio é encarregado do período de 1931 a 1959, e Nelson Xavier é o Chico maduro de 1969.

A direção fica por conta do veterano carioca Daniel Filho, envolvido com uma miríade de filmes nacionais que incluem “Auto da Compadecida” (2000), “Cidade de
Deus” (2002), “Zuzu Angel” (2006) e “Se eu Fosse Você 2” (2008), principalmente através da sua produtora Lereby Produções.

O diretor já afirmou que buscou focar-se no homem Chico Xavier, que carregava o compromisso com a paz e a espiritualidade de uma forma paterna. “As Vidas de Chico Xavier” foi filmado no pólo cinematográfico de Paulínia e manteve um blog (
http://www.chicoxavierofilme.com.br/blog/) acompanhando a produção e as filmagens do filme, que foram encerradas há cerca de uma semana e meia, no dia 17 de Agosto de 2009. A estréia do longa está prevista para o dia 2 de abril de 2010 – dia em que Chico completaria cem anos.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Relato Pessoal: O Cinema na China

Não é novidade para ninguém que um governo totalitário como o chinês, sob as rédeas firmes do partido comunista há 60 anos, exerça o seu poder de censura também sob a sétima arte. Independente de concordarmos ou não com a censura do governo chinês, foi inevitável para mim, como expatriado em Xangai durante 2 anos, notar que em termos de conhecimento e cultura a população chinesa (e, por tabela, o crescente grupo de expatriados) é amplamente prejudicada, mesmo em cidades cosmopolitas como Xangai.

Os censores chineses escolhem 20 filmes estrangeiros ao longo do ano para serem exibidos nas poucas salas de cinema da China. Portanto, os filmes estrangeiros que chegam ao cinema chinês são grandes “blockbusters”. Bons exemplos são os filmes do Homem-Aranha, “Missão Impossível III”, que foi filmado em Xangai, e “Mr. Bean – O Filme”. Muitos desses filmes acabam sendo lançados muito depois de serem exibidos na maior parte do mundo e de serem largamente comercializados em DVD, original ou falsificado. “Anjos e Demônios”, filme baseado no livro de Dan Brown, até o presente momento não chegou nos cinemas chineses. Essa demora em geral ocorre em decorrência da análise meticulosa que os censores chineses fazem dos filmes, editando-os (como foi o caso do próprio “Missão Impossível III”, “007 Cassino Royale” e tantos outros) ou proibindo a distribuição de certos filmes pelos motivos mais aleatórios, ainda que seja notado o repúdio do governo chinês a atos de violência extrema, à homossexualidade e à pornografia (ou mesmo o nudismo sem fins eróticos). “Os Infiltrados”, filme de Scorsese que venceu o Oscar de melhor filme em 2007, é um exemplo de filme proibido de ser exibido por conter conteúdo violento, assim como “Piratas do Caribe – O Baú da Morte” que tinha o canibalismo como agravante, ainda que “Piratas do Caribe – No Fim do Mundo” tenha sido exibido. Essa proibição tem até base lógica, já que na China não há classificação etária para os filmes. O que nunca consegui compreender é o porquê da não existência de classificação etária.

Todo esse descaso com uma arte de tamanha relevância como o cinema traz, inevitavelmente, diversas consequências. Xangai, com sua enorme população que inclui muitos estrangeiros, possui poucas salas de cinema que passam, em sua maioria, filmes chineses. Imagine as cidades do interior. A necessidade de ver outros filmes alimenta o mercado de DVDs “piratas” que custam, em média, 10 yuan, o equivalente a cerca de 3 reais. Filmes pirateados são vendidos em qualquer lugar imaginável em Xangai, através de ambulantes ou de lojas especializadas, que tem a aparência de locadoras que, inclusive, não existem na cidade já que a pirataria é consumida pela grande maioria dos chineses e estrangeiros. O sucesso, se justifica até pelos preços dos ingressos para esses poucos cinemas, que é altíssimo, muito mais caro do que um filme pirateado. Os DVDs originais demoram a sair quando se trata de filmes recentes, é bem mais caro e vendido em poucos lugares. A oferta de filmes que não podem ser vistos no cinema nessas lojas, ofusca qualquer brilho que o cinema chinês pudesse ter, então a proibição configura-se como um ato que prejudica também, o cinema do país, que já não tem muita tradição exceto por cineastas como Ang Lee, que é profundamente odiado pelo partido comunista. Quanto à mentalidade da população, o interesse no cinema é simplesmente desmotivado. O conhecimento sobre o cinema é limitado, visto que filmes não americanos não são comuns. “Adeus, Lênin”, um bom filme alemão, era um dos poucos que via com frequência nessas lojas de DVDs.

Esse aspecto da censura chinesa é apenas uma pequena parte de um debate muito maior que se estabelece acerca do quão aceitável é o autoritarismo do governo chinês, em contraste com os diversos êxitos alcançados pelo partido comunista ao longo dos anos, principalmente a partir da era Deng Xiaoping, pós Mao Tse Tung.

sábado, 15 de agosto de 2009

Tempo de menos, filmes demais


O diretor de uma das mais consagradas e bem-sucedidas trilogias que as telonas já presenciaram tem se mantido muitíssimo ocupado — apesar de seu suposto sumiço após o lançamento de seu último filme, “King Kong” (2005). O neozelandês Peter Jackson, 47 anos, famoso pela adaptação de “Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien, está envolvido em inúmeras produções.

Sua carreira começou com o filme trash “Náusea Total” (Bad Taste, 1987), feito de maneira amadora — devido ao baixíssimo orçamento de Jackson— e com a participação de parentes e amigos em todas as funções possíveis, que foi parar inscrito no Festival de Cannes do ano, fato que o rendeu alguns prêmios e reconhecimento. A história do filme, bem trash, fala sobre alienígenas que vem ao planeta Terra em busca de carne humana para uma rede de fast-food intergalática.


Envolvido com nada mais nada menos que cinco produções, não é à toa que nada se ouviu de Jackson até recentemente, com a liberação do pôster e do primeiro trailer de um de seus filmes. A produção em questão é “Um Olhar do Paraíso” (The Lovely Bones, 2009), o primeiro do cineasta a chegar aos cinemas brasileiros, em 22 de Janeiro de 2010. O filme, escrito, dirigido e produzido por Jackson, narra a história da menina Susie Salmon (Saoirse Ronan, de “Desejo e Reparação” – 2007) que, após ser assassinada, olha por sua família e seu assassino do Paraíso. Seu desejo de vingança deverá ser equilibrado ao seu anseio pela superação de sua família.




Muito também se tem falado sobre a produção “The Adventures of Tintin : The Secret of the Unicorn” (2011), baseada na história em quadrinhos homônima de Hergé. O filme será filmado com a tecnologia de captura de movimento, mesma técnica de “Scanner Darkly” (2006) de Richard Linklater e “Beowulf” (2007) de Robert Zemeckis. No papel do jovem jornalista e investigador está Jamie Bell, ator inglês que também esteve em “Jumper” (2008) e mais conhecido por “Billy Elliot” (2000). Andy Serkis – o Gollum de “Senhor dos Anéis” - interpretará o Capitão Haddock.

Inicialmente, o filme terá duas continuações, ganhando o status de trilogia. Esta primeira aventura conta com a direção de Steven Spielberg e produção de Peter Jackson. No elenco ainda encontram-se Daniel Craig (“007 - Quantum of Solace”, 2008), Simon Pegg (“Todo mundo quase Morto”, 2004) e Mackenzie Crook (“Piratas do Caribe”, 2003/2006/2007).




Dentre os projetos que envolvem Jackson, talvez o mais comentado seja o anúncio da adaptação de “O Hobbit” (The Hobbit, 2011), aventura anterior aos acontecimentos da trilogia “Senhor dos Anéis”, na Terra Média de Tolkien. Até agora apenas três atores foram confirmados no elenco: Ian McKellen, Andy Serkis e Hugo Weaving, retornando seus devidos papéis na história, o mago Gandalf, a criatura Gollum e o elfo Elrond, respectivamente. Com direção de Guilherme del Toro, mesmo da franquia Hellboy, o filme deverá ser dividido em duas partes, uma prevista para o final de 2011 e a outra, para o de 2012. Dessa vez, a história acompanha a jornada do hobbit Bilbo Bolseiro, juntamente com um grupo de anões, em busca do tesouro da Montanha Solitária, que conta com a proteção de um dragão.


O filme, no qual Peter Jackson participa como produtor executivo e roteirista, ainda está em fase inicial de pré-produção - o próprio intérprete do papel principal (Bilbo Bolseiro) ainda está incerto. Três atores parecem estar sendo cotados por Del Toro para viver o hobbit nas telonas: Daniel Radcliffe (da série Harry Potter), James McAvoy (de “Desejo e Reparação”, 2007, e “O Procurado”, 2008) e David Tennant (da série de televisão americana “Dr. Who”); este último, segundo rumores, seria o preferido do diretor para o papel.


Com tantos projetos potencialmente grandiosos marcados com seu nome, nos resta esperar e conferir se tais filmes alcançarão o mesmo padrão bem-sucedido a que o público se acostumou a associar ao nome de Peter Jackson.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cinéfilos na Bienal do Livro

Se para quem curte esportes um ano par significa Copa do Mundo ou Olimpíadas, o ano ímpar para o bom leitor do Rio de Janeiro significa a oportunidade de ir à Bienal do Livro ver alguns de seus escritores favoritos. Em sua 14ª edição, a Bienal do Livro Rio também atrairá os cinéfilos. O motivo tem nome e é Steven Jay Schneider autor do livro "1001 filmes para ver antes de morrer" (1001 Movies You Must See Before You Die, 2004) que se tornou praticamente a bíblia dos fanáticos pela 7ª arte.

A experiência de Schneider com o cinema é bastante acadêmica. Ele tem mestrado em Estudos de Cinema pela NYU (New York University) e em Filosofia por Harvard e busca um PhD em Estudos Cinematográficos também em NYU. Os resultados de seus estudos na área são mais de 10 livros tratando do cinema. Além de "1001 filmes" ele também publicou "Cine de Terror" (Horror Cinema, 2008) e outros como "501 Movie Stars" (2007), "501 Movie Directors" (2007) e "Traditions in World Cinema" (2006) que ainda não foram traduzidos para o português.

A Bienal do Livro começa no dia 10 de Setembro e termina no dia 20 do mesmo mês, no Rio Centro.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Don’t You Forget About Me


Ninguém entendeu melhor a angústia adolescente do que John Hughes. O diretor e roteirista, que morreu nesta quinta feira dia 6 aos 59 anos, arrebatou gerações com seus filmes nos anos 80, tidos como características daquele período. Clássicos jovem como “Curtindo a Vida Adoidado” (Ferris Bueller’s Day Off – 1986) hoje fazem parte da definição da cultura da época – o próprio estilo de vida do personagem Ferris Bueller chegou a ser reverenciado em diversos outros filmes e até na música (a banda americana Save Ferris é um exemplo).

Com uma filmografia que ainda inclui “Clube dos Cinco” (The Breakfast Club – 1985) e “Gatinhas e Gatões” (Sixteen Candles – 1984), o interessante de se notar no trabalho de Hughes é que ele consegue captar em suas obras não apenas o que é ser adolescente nos anos oitenta, mas a própria essência desta fase da vida de forma completamente atemporal. Dessa maneira, até hoje, seus filmes conseguem criar e manter uma forte ligação com seu público. Amor não correspondido, desejo de aproveitar a vida, matar aula fingindo-se estar doente, medo do futuro incerto, pressão dos pais, detenção – coisas que podem ser associadas a um adolescente de qualquer época.

O diretor, que marcou todos que já foram adolescentes e assistiram seus filmes, sofreu um ataque cardíaco em Nova Iorque enquanto dava uma corrida pela cidade. O ator Matthew Broderick, que deu vida à Ferris Bueller, e a atriz Molly Ringwald, grande protegida de John Hughes - tendo aparecido em muitos de seus filmes, incluindo “A Garota de Rosa Shocking” (Pretty in Pink – 1986) – mostraram-se ambos chocados com o acontecimento e demonstraram apoio a família do cineasta, que tinha dois filhos.

Uma das razões, talvez, de seu sucesso em capturar de forma completa a adolescência tenha sido a contribuição da trilha sonora. Em cada um de seus filmes, Hughes escolhia cautelosamente as músicas que representariam a história de cada obra. Assim, os melhores momentos de seu trabalho estão ligados a músicas que se relacionam tão bem com os filmes que, sem elas, eles não seriam os mesmos.

Dois ótimos exemplos são: a lendária seqüência em “Curtindo a Vida Adoidado”, na qual Ferris Bueller canta “Twist and Shout” dos Beatles no meio de uma parada na rua; e a seqüência em “Clube dos Cinco” na qual os personagens dançam ao som de “We Are Not Alone” de Karla DeVito na biblioteca do colégio.



O espírito adolescente perdeu seu maior representante e, por isso, o colegial nunca mais será o mesmo. Mas o legado de Hughes permanecerá conosco para sempre e, através dele, o real significado do que é ser jovem.